
O Projeto Socioambiental trabalha em assentamentos para a recuperação de áreas que foram desmatadas ou queimadas como consequência da implementação do modelo da pecuária extensiva.
Cerca de 180 famílias agricultoras já desenvolveram iniciativas de reflorestamento em suas terras nos assentamentos Dom Pedro e Zeca da Doca, em São Felix do Araguaia, e no assentamento Mãe Maria, no município de Alto Boa Vista. Através deste trabalho que a ANSA desenvolve de forma continuada desde 2009, 230 hectares de áreas desgradadas já se encontram em processo de recuperação ambiental.
Organizando reuniões e encontros entre todos os envolvidos e, sobretudo, mantendo um trabalho constante de visitas técnicas às áreas dessas comunidades, é feito o planejamento, monitoramento e avaliação do grupo e individual. São considerados os interesses e as possibilidades de cada família, lançando mão de diferentes espécies, desenhos e técnicas de plantio para fazer o reflorestamento. São usadas mudas de árvores nativas consorciadas com o plantio direto diversificado de sementes. No plantio, a ANSA estimula a cooperação dos grupos de afinidade, promovendo mutirões.
Mas o trabalho não se resume a reflorestar áreas degradadas. Tendo como base o sistema agroflorestal (SAF), conhecido regionalmente como casadão, os plantios permitem aproveitar as colheitas durante o processo de recuperação e após a floresta formada. O casadão é um sistema produtivo que, além da diversidade de espécies, conta com a diversidade de tipos de plantas, como cultivos anuais, perenes, árvores, arbustos, ervas e até cipós.
Nos primeiros anos, o casadão se parece com uma roça. Com o passar do tempo, porém, se parece mais com uma floresta. Enquanto o casadão vai mudando de cara, vão mudando também as colheitas e o manejo da área. Através da recuperação com produção, cria-se uma cultura de valorização e uso dos recursos florestais não-madeireiros de forma sustentável pelos camponeses.
O casadão é um sistema de plantio que exige pouco capital e maquinário, mas muita dedicação, observação e conhecimento. Por isso, as famílias que reflorestam participam ativamente de encontros, formações e intercâmbios apoiados pelo Projeto Socioambiental da ANSA.
Todos os anos, organizamos intercâmbios de experiências, cursos e oficinas nas comunidades em que atuamos, com o objetivo de aprofundarmos na construção de uma identidade coletiva entre as famílias de agricultores e de melhorarmos os conhecimentos técnicos relacionados com a recuperação de áreas degradadas no Cerrado.
Ao longo dos anos, o Projeto Socioambiental vem adquirindo relevância estratégica dentro da ANSA e junto a instituições parceiras. Assim, as ações realizadas pelo projeto tem se articulado com as demais iniciativas desenvolvidas nos diferentes eixos de trabalho da ANSA. Além disso, o Projeto Socioambiental tem se colocado à frente na participação da ANSA na Articulação Xingu Araguaia (AXA). Através da AXA, são organizadas ações conjuntas com outras entidades que desenvolvem projetos similares na região.
A educação ambiental é uma parte importante dentro do Eixo, num trabalho que envolve escolas e professores da cidade de São Felix do Araguaia e dos assentamentos. Em 2015, por exemplo, o Projeto Socioambiental promoveu um intercâmbio entre 50 estudantes e 10 professores de escolas do campo e da cidade. Crianças do PA Dom Pedro visitaram as iniciativas da ANSA na cidade de São Felix do Araguaia, como a fábrica da Araguaia Polpa de Frutas e o Viveiro Araguaia. Na outra ponta, crianças da cidade foram até o PA Dom Pedro conhecer as experiências de reflorestamento e de produção diversificada nos lotes das famílias assentadas. As famílias tiveram a oportunidade de contar suas histórias de vida, cheias de dificuldades mas também de muitas realizações e transformações, que puderam ser conferidas de perto pelos pequenos visitantes.
Um evento que ganhou grande destaque entre as ações do Projeto Socioambiental foi a Mostra Socioambiental do Araguaia, que mantém edições anuais continuadas desde 2013. As mostras tem se firmado não só como um espaço de exposição dos produtos e iniciativas socioambientais da região, mas como um momento de vivência e alegria para os produtores, para a população de São Felix do Araguaia e para os visitantes de outros lugares.
Vivero Araguaia
Na saída da cidade de São Felix do Araguaia, o Projeto Socioambiental da ANSA mantém o Viveiro Araguaia de mudas e sementes, desde 2007. Em uma chácara de três hectares, o viveiro da ANSA produz anualmente 6.000 mudas de 20 espécies do Cerrado e da Amazônia, além de plantas frutíferas.
A área abriga ainda uma pequena reserva de cerrado. Assim, o viveiro é também um espaço de experimentação tanto de germinação de sementes quanto de técnicas de plantio. Por estas características, é um espaço privilegiado para as atividades de educação ambiental e formação socioambiental.
O Viveiro Araguaia desempenha um papel de elo entre as iniciativas já existentes, criando um ciclo sinérgico de aproveitamento de recursos e geração de renda através de cadeias produtivas sustentáveis. O viveiro da ANSA aproveita os resíduos da fabricação de polpas pela Araguaia Polpa de Frutas para beneficiar sementes de espécies frutíferas e a partir destas, produzir mudas. As mudas e sementes do viveiro são usadas nos plantios de recuperação ambiental do Projeto Socioambiental. As sementes frutíferas beneficiadas também são vendidas para a Rede de Sementes do Xingu. Assim, o Viveiro Araguaia, antes de tudo, fortalece e apoia outras iniciativas sustentáveis tocadas pela ANSA e parceiros.